Se você olhar bem de perto uma flor de maconha, vai reparar que ela é cheia de uma resina translúcida e grudenta no formato de um cogumelo. Esses bulbos resinosos são chamados de tricomas, e são estruturas que desempenham um papel essencial na sobrevivência da planta, servindo de proteção contra ameaças biológicas e luminosidades intensas. Além disso, os tricomas na cannabis abrigam as principais substâncias da planta que lhe conferem suas propriedades terapêuticas, psicotrópicas e aromáticas. Este post vai te ajudar a entender melhor essa estrutura biológica. Abaixo, você encontra os tópicos abordados neste artigo:
- O que são tricomas na cannabis
- Qual a aplicação prática desse conhecimento sobre os tricomas na cannabis?
- Usando tricomas para determinar o tempo de colheita
- Tricomas na cannabis e o kief
- Como ter mais tricomas na cannabis?
- Tipos de tricomas na cannabis
- Tricomas não-glandulares
- Tricomas glandulares
- Estrutura dos tricomas das flores e folhas
- Qual a função e importância dos tricomas na cannabis?
- Conclusão
- Referências bibliográficas
O que são tricomas na cannabis?
Os tricomas são protuberâncias presentes na epiderme da cannabis, possuindo diferentes formatos e funções biológicas. São estruturas que podem ou não ser glandulares, atuando como principais responsáveis pela biossíntese de canabinóides, como o THC e CBD, e de terpenos, que são os compostos aromáticos da maconha. Estes componentes presentes nos tricomas possuem diversas finalidades, como afastar ameaças biológicas (fungos, insetos etc.) e proteger a planta de luminosidades intensas (agindo como uma espécie de “protetor solar”).
Pouco visíveis a olho nu, os tricomas são melhor observados através de instrumentos de ampliação, como lupas e microscópios. Mas mesmo num exame atento sem aparelhos é possível ver os tricomas da cannabis saindo de suas flores e folhas.
Qual a aplicação prática desse conhecimento sobre tricomas na cannabis?
Os tricomas na cannabis são importantes para cultivadores da planta por duas razões: 1) servem como indicador para o momento adequado de colheita; 2) abrigam a maior parte dos componentes ativos da cannabis, tornando possível as diversas extrações de cannabis para uso medicinal, como o kief.
Usando tricomas para determinar o tempo de colheita
Como planta anual, a cannabis tem dois estágios de crescimento: vegetativo e de floração. No estágio vegetativo, a planta cresce rapidamente e produz quantidades mínimas de compostos medicinais; por outro lado, na fase de floração a biossíntese de canabinoides é acelerada e atinge o nível mais alto durante as últimas semanas de maturação das flores.
Ao monitorar a mudança na cor das cabeças da glândula, um cultivador pode avaliar a maturação das plantas na floração. No começo até a metade da floração as cabeças de resina estarão mais claras, enquanto durante a fase final do ciclo de florescimento os tricomas passarão da cor clara para turva, leitosa branca e, finalmente, para âmbar ou laranja. Cultivadores experientes dizem que o tempo de colheita ideal é quando as cabeças bulbosas estão numa proporção de 70% turvas e 30% na cor âmbar. Naturalmente, há outros fatores que determinam o melhor momento para colher os buds, mas os tricomas são um bom teste para evitar uma colheita muito precoce ou muito tardia.
Um fato interessante é que os cachos florais são compostos por tricomas em diferentes estágios de desenvolvimento à medida que a cannabis cresce, pois a planta mantém a floração e forma novos buds o tempo todo, sendo que flores podem surgir e crescer em cima das antigas. Por isso, é importante conferir se a maior parte das flores estão maduras antes da colheita. Um método seguido por alguns cultivadores consiste em colher apenas a metade superior da planta e deixar a metade inferior da floração por mais algum tempo.
Tricomas na cannabis e o kief
Tricomas são estruturas frágeis, e esse é um dos motivos pelos quais a planta de cannabis deve ser manuseada delicadamente durante todo seu ciclo de vida. Mesmo uma ligeira agitação é capaz de fazer com que os tricomas se soltem da planta, resultando em menor quantidade de terpenos e canabinóides.
Quando aglutinados, esses tricomas quebrados geram uma substância fina e arenosa que chamamos de kief (também escrita como keef ou kif). A maneira mais fácil de coletar kief é usando um triturador de ervas de 3 peças (com tela). A construção da câmara do triturador permite que a erva triturada fique presa na câmara intermediária à medida que os tricomas continuam a cair através de uma tela, recolhendo-se no fundo do triturador.
Para coletar quantidades maiores de kief e de maior qualidade, é possível criar “peneiras” improvisadas usando telas de serigrafia separadas em camadas. A partir de uma técnica chamada dry sift, é possível separar os tricomas, revolvendo e peneirando a matéria vegetal o suficiente para fazer com que eles se separem e caiam através das telas. Temos um texto completo sobre extrações canábicas sem uso de solvente, que são as técnicas mais seguras e simples de criar extratos com os componentes terapêuticos da maconha.
Como ter mais tricomas na cannabis?
A quantidade e tipo dominante de tricomas na cannabis depende em grande parte da genética, mas a formação de glândulas de resina e o processo que ocorre dentro deles é fortemente dependente da soma de todos os fatores envolvidos — não apenas genéticos, como também ambientais (umidade, temperatura, iluminação etc.).
É importante notar que uma produção elevada de tricomas pode significar um nível de potência elevado, mas não necessariamente é assim. Isso porque existem muitos óleos diferentes em um tricoma, contendo diferentes substâncias químicas. Então começar com a cepa correta e empregar boas práticas de cultivo (inclusive uma iluminação adequada) pode fazer toda a diferença.
Tipos de tricomas na cannabis
Os tricomas na cannabis apresentam uma variedade de formas, tamanhos e composições celulares, sendo divididos em dois grupos: glandulares e não glandulares. Para colocar o tamanho de um tricoma em perspectiva, vamos medí-lo em mícrons (µm). Um fio de cabelo humano tem aproximadamente 75 µm de largura e um glóbulo vermelho humano tem, em média, 5 mícrons.
Um estudo¹ identificou seis tipos de tricomas na cannabis, representados na imagem a seguir:
Tricomas não-glandulares
Tricomas não-glandulares são extensões semelhantes a pêlos, com um ápice pontiagudo e delgado. Eles protegem a planta do ambiente, principalmente de ameaças físicas (por exemplo, restringindo o acesso a animais e insetos, evitando perda de água, degradação luminosa e infecção por fungos). Quando falamos dos tricomas na cannabis, é comum encontrar os não-glandulares na parte superior e inferior das folhas, e eles se enquadram em uma das duas categorias:
- Tricomas não-cistolíticos: são encontrados mais frequentemente no lado inferior das folhas, brácteas e bractéolas e tendem a ser finos e delgados.
- Tricomas cistolíticos: têm uma forma característica de garra de urso e podem ter cistólitos de cálcio, parecidos com nós, visíveis em suas bases. Eles são encontrados na superfície superior das folhas e variam de 150 a 220 mícrons de altura. Frequentemente, o tricoma é quebrado e o nó de cálcio é liberado.
Tricomas glandulares
Os tricomas glandulares produzem e armazenam grandes quantidades de resina. Plantas femininas são particularmente ricas em tricomas glandulares. Estes tricomas na cannabis estão principalmente associados às estruturas florais, mas também podem ser encontrados na parte inferior das folhas e, ocasionalmente, nas hastes de plantas jovens. Essa estrutura resinosa é associada a diferentes quimiotipos, listados na imagem acima.
Tricomas glandulares podem ser enquadrados em uma das três categorias a seguir:
- Tricoma séssil capitado – mede de 25 a 100 microns de diâmetro e tem uma cabeça em forma globular. Estes são mais comuns, pois ocorrem em caules, folhas e brácteas. Os tricomas sésseis capitados produzem canabinoides ao longo do ciclo de vida da planta, mas em níveis muito mais baixos do que os tricomas de haste.
- Tricoma de haste capitado – mede de 150 a 500 microns de altura e se assemelham a minúsculos cogumelos. Tricomas de haste capitados são a principal fonte de canabinoides, terpenos e outros compostos encontrados na planta de cannabis. Os tricomas de haste capitados desenvolvem-se apenas após a formação das flores, e ocorrem especialmente nas brácteas que abrigam uma semente.
- Tricoma bulboso – pouco visível a 15-30 microns. Tricomas bulbosos podem ser encontrados em toda a planta. Eles não produzem nem abrigam canabinoides ou terpenos.
Estrutura dos tricomas nas flores e folhas
Os tricomas na cannabis costumam crescer em maior concentração em torno da flor pistilada (plantas fêmeas) ou da bráctea (um tipo de folha modificada que cresce em torno da flor), mas também estão presentes nas folhas e até nos caules da maconha. Isso significa que a maior concentração de canabinóides e terpenos está nas flores de maconha, já que estas contêm uma densidade maior de glândulas do que as folhas.
Para ilustrar: quando uma flor é pesada seca (pronta para fumar), ela chega a ter por volta de 25% a 30% do seu peso representado por tricomas, enquanto que nas folhas essa representatividade é de 4%.
Olhando bem de perto durante a floração, é possível identificar seis diferentes tipos de tricomas na cannabis, que logo serão explicados. Mas o maior deles, com o maior volume de resina, é o Tricoma de Haste Capitado (capitate stalked trichomes). Vamos olhar ele mais de perto:
Anatomia de um tricoma
As Células Epidérmicas sustentam o tricoma maduro, formando a parte externa da haste, e uma camada contínua dessas células se estende sobre toda a superfície da bráctea. As Células Hipodérmicas ficam no interior da haste do tricoma e transportam constantemente nutrientes (floema) para a cabeça da glândula. A Célula Basal no topo da haste segura a cabeça da glândula. Conforme a flor amadurece e as flores maduras secam, essa conexão enfraquece e as cabeças das glândulas tendem a cair; isso significa que as flores da maconha precisam ser manuseadas com muito cuidado para não afetar essas estruturas cheias de canabinóides.
Na base da cabeça da glândula estão as Células Estipe, que sustentam as Células Secretoras. As células secretoras absorvem os nutrientes do floema e os transformam em precursores do metabolismo dos canabinoides e terpenoides. A teoria é que esses precursores são transportados para as Vesículas Secretoras na cabeça do tricoma e só então são convertidos em canabinoides e terpenos. Nosso blog possui um texto explicando tudo que você precisa saber sobre terpenos!
Na medida que a cabeça da glândula produz esses compostos, a resina vai se depositando e, perto da Cutícula, surgem as camadas externas da superfície do tricoma. A cutícula engrossa ficando mais rica em óleo à medida que a floração progride. Os óleos essenciais, incluindo o THC, geralmente se acumulam na camada externa da cabeça da glândula, mas também na camada externa das células epidérmicas que cobrem toda a bráctea, ou qualquer área densa de tricomas. O THC resinoso também se acumula nas matrizes fibrilares das vesículas secretoras. Dentro destas vesículas há algum THC, mas também quantidades elevadas de terpenos, que são menos viscosos.
Qual a função e importância dos tricomas na cannabis?
Os tricomas na cannabis desempenham um papel fundamental para a planta sobreviver. Isso porque a superfície de resina pegajosa fornece uma defesa natural contra fungos, insetos e predadores, tais como herbívoros que não podem penetrar na barreira pegajosa, ou que são dissuadidos por acharem o sabor e/ou a textura desagradáveis. Por exemplo: um estudo² indicou que substâncias como o THCA e o CBGA, presentes nos tricomas na cannabis, demonstraram ser tóxicas para algumas espécies de insetos.
Abaixo, é possível ver uma imagem onde os diferentes tipos de tricomas glandulares são associados a diferentes quimiotipos:
(A) Plantas predominantes de CBDA e/ou THCA carregam tricomas com hastes e grandes cabeças transparentes;
(B) Clones predominantes em CBGA. Ambos mostram tricomas de cabeça opaca;
(C) Clones predominantes em CBGA. Ambos mostram tricomas de cabeça opaca;
(D) Quimiotipos livres de canabinoides carregam tricomas com as cabeças murchas;
(E) Clones com predominância de CBCA tem poucos tricomas com hastes e possuem alta densidade de tricomas sésseis.
Tricomas na cannabis também atuam como uma espécie de protetor solar natural para a planta. Isso porque as cabeças das resinas glandulares filtram os raios UV quando se ligam, protegendo os brotos em crescimento e prevenindo mutações na planta.
Conclusão
Os tricomas na cannabis são estruturas importantes para a sobrevivência da planta e também conferem a ela grande parte de suas propriedades terapêuticas, normalmente associadas aos canabinoides, como o THC e CBD, e aos terpenos. Por isso, muitos extratos de maconha são feitos utilizando os tricomas como principal componente
Além disso, os tricomas possuem características que servem como proteção natural contra invasores biológicos e funcionam também como protetor solar, filtrando os raios ultravioletas.
Então quer dizer: se você quer potencializar os efeitos medicinais da sua planta, você precisa que ela “passe bastante protetor solar”, e para isso você precisa de uma boa iluminação. Aqui na Cultlight você encontra painéis de LED de excelência para sua planta suar bastante e produzir potentes e abundantes tricomas.
Sobre o Autor:
Meu nome é Carlos Eduardo, paciente de Cannabis Medicinal e sócio fundador da Cultlight, empresa especializada em iluminação para horticultura e cultivo indoor. Pra quem já me conhece do Instagram ou do YouTube, eu sou o Cadu da Cultlight. Sou Engenheiro de Produção formado na Universidade Federal Fluminense (UFF), onde pesquiso sobre de Cannabis, cultivo, produção e autoprodução, principalmente com o foco medicinal. Te convido a acompanhar nossos conteúdos nas redes sociais para ter acesso a mais dicas e conteúdos técnicos gratuitos sobre cultivo de maconha!
Se você ainda possui alguma dúvida sobre cultivo de cannabis, por mais simples e básica que pareça ser, não hesite em entrar em contato com a Cultlight, nós faremos o possível para te ajudar ao longo de todo o caminho.
Chama lá!
Esse texto é uma adaptação do original de autoria de Kroma Labs, especialista em soluções para o mercado canábico.
Referências bibliográficas
¹ ANDRE, C. M. et al. Cannabis sativa: The Plant of the Thousand and One Molecules. Frontiers in Plant Science, v. 7, 2016.
² TAURA et al. Recent Advances in Cannabis sativa Research: Biosynthetic Studies and Its Potential in Biotechnology. Current Pharmaceutical Biotechnology, v. 8, n. 4, 237–243, 2007.
³ PERTWEE, R. G. (org.). Handbook of Cannabis. New York, Oxford University Press, 2014.