Dicas de Cultivo, Cultivo Orgânico

IMO (Microorganismos Nativos) – Como fazer, utilizar e melhorar seu cultivo

Caixa de madeira cheia de fertilizante de microorganismos nutrientes.

Os microrganismos nativos são um grupo de microrganismos – conhecidos e desconhecidos – que apresentam grande poder no solo. O IMO no cultivo traz muitos benefícios para as plantas. Eles são a base da Agricultura Natural.

Lembre-se que a agricultura não existe sem terra. Por isso, fazer com que a terra seja forte, fértil e saudável, é a prioridade número um da Agricultura Natural. E para que o solo seja saudável, é necessário que haja condições e alimentos adequados para os organismos ali presentes.

Atuando de forma equilibrada e respeitosa, você verá que esses organismos serão responsáveis por deixar seu solo macio, úmido e, principalmente, saudável.

Confira nosso artigo sobre os objetivos da Agricultura Natural e seus benefícios.

Antes de adentrar na extensa e detalhada receita de preparo de IMO no cultivo, vamos primeiro entender todo o conceito por trás dos microrganismos nativos.

Por que “microrganismos nativos” ?

Como já dito anteriormente em outros artigos, a Agricultura Natural rejeita microrganismos estranhos ou produzidos artificialmente. Isso se deve porque nenhum outro microrganismo se adapta com a mesma eficácia do que os microrganismos que vivem no seu solo há muito tempo. Portanto, não se faz necessário comprar microrganismos de outros lugares que, do ponto de vista do solo, serão considerados invasores e podem prejudicar o equilíbrio daquele ecossistema. 

Conhecendo melhor os IMOs

Os microrganismos nativos fazem a maior parte da circulação de materiais na natureza. Para esses microrganismos, nada é impossível. Sua força é extraordinária. Existem duas funções principais do IMO no cultivo:

Decompor e converter compostos orgânicos complexos

Cadáveres de plantas e animais, secreção, excreção e fertilizantes orgânicos são transformados em compostos simples pelos IMOs para que a circulação do material seja possível. Eles também conseguem decompor nutrientes inorgânicos, tornando-os altamente ativados, facilitando sua absorção pelas plantas. 

Criar compostos complexos ou orgânicos em síntese

Os IMOs produzem diversos materiais, como ácidos lácticos, enzimas e substâncias antibióticas. Por meio dessas substâncias, eles combatem várias doenças e promovem reações químicas no solo. 

É importante frisar que os IMOs são um produto histórico, ancestral. Por milhares de anos esses microorganismos sobreviveram e se adaptaram àquele ambiente e por isso conseguem suportar condições climáticas extremas. Se você souber como ativar e potencializar o poder desses microrganismos, é certo que eles irão desempenhar poderosamente suas funções.

Outro ponto importante é entender que esses microrganismos devem estar em equilíbrio com o ambiente. Não é porque algo é benéfico para o solo que devemos exagerar nas aplicações.

Em hipótese alguma você deve olhar para esses microrganismos como fertilizantes e vitaminas com a expectativa de efeito simples e de curta duração. Ao fazer isso, de fato, a curto prazo o resultado será o esperado. Contudo, a longo prazo, isso pode perturbar o equilíbrio do ecossistema. Dessa forma, a Agricultura Natural não recomenda o uso do IMO no cultivo para uma função específica. 

Como utilizar IMO no cultivo indoor

Quando um solo perde microrganismos, isso significa que ele está perdendo resistência a doenças. Logo, a utilização contínua do IMO no cultivo não proporciona apenas solo e plantas saudáveis, mas também ajuda na prevenção de doenças.

Dito isso, é interessante destacar algumas noções que devemos ter antes de produzir e utilizar microrganismos nativos:

Use IMOs continuamente

Parece clichê, mas é verdade: a constância é um dos pilares para se conquistar bons resultados. Se você utiliza esses microrganismos algumas vezes e deixa de lado ou utiliza alguns insumos só para parecer que algo está sendo feito, você claramente não está buscando por resultados a altura do poder que esses microrganismos podem oferecer.

Constância com equilíbrio é a chave para bons resultados.

Diversidade é fundamental

Dentro da noção de microrganismos nativos, a polarização não se encaixa. Para a Agricultura Natural, não é possível classificar todas as bactérias presentes no IMO como boas ou ruins e é exatamente aí onde se encontra o “pulo do gato”: é na diversidade de microrganismos interagindo no solo que se faz o equilíbrio necessário.

Use o microorganismos resistentes

Altitude, fertilidade e iluminação são alguns fatores que interferem nas características dos IMOs.

Se você coletar microrganismos de várias regiões, irá notar que eles diferem uns dos outros por conta do meio em que vivem. Experimentar esses microorganismos resistentes do solo também é uma opção interessante.

Como coletar os microrganismos

Existem vários métodos para se coletar IMO no cultivo. Você pode coletá-los em montanha ou colinas utilizando arroz cozido no vapor com baixa umidade. Uma dica: ao cozinhar o arroz, mantenha o nível da água em apenas ¼ a mais que o nível do arroz na panela. Após cozido, inicia-se o processo de IMO 1 e 2:

*Dica que recebi do Pedro Meza: cozinhar o arroz com um pouco de FPJ e OHN faz uma boa diferença no resultado final.

Se você não conhecer alguma dessas siglas, temos um ótimo artigo para iniciantes sobre os insumos do KNF

IMO 1

  • Deixe o arroz esfriar e em seguida coloque-o em uma caixa de material natural (pode ser de palha ou até papelão mesmo). Sem pressionar, deposite o arroz até ⅔ da capacidade da caixa. Não exagere nessa etapa, pois é necessário ter circulação de ar no recipiente ou você irá coletar microorganismos anaeróbicos, que não são o foco da coleta.
  • Depois disso, cubra o recipiente com uma toalha de papel não branqueado e amarre a caixa com elástico ou barbante. Se preferir utilizar uma tampa de caixa de palha, apenas certifique-se de que a tampa não está encostando no arroz. Coloque folhas decompostas ao redor da caixa, de preferência as que apresentam crescimento de micélios brancos.
  • Dica: Para evitar ataques de roedores ou problemas com chuva, coloque um cesto de roupa suja de cabeça para baixo para proteger sua caixa de coleta.
  • O tempo de coleta do IMO varia bastante de acordo com o local por questões de clima, umidade e temperatura. Dependendo do local, a coleta pode demorar bastante, mas no Brasil é recomendado deixar entre 3 à 5 dias.
  • 20 L de água da chuva misturada com os insumos:
  • De modo algum abra a sua caixa para verificar a coleta. Apenas tente sentir o calor da caixa e, se estiver morno, você pode espiar cuidadosamente dentro da caixa. Se o que estiver na caixa parecer com um algodão branco e fofo, você tem um IMO 1 e já pode correr para fazer o IMO 2.

IMO 2

  • Dentro de 15 minutos após abrir a caixa de coleta é o momento adequado para fazer o IMO 2. Não demore nessa etapa.
  • Misture o IMO 1 com açúcar mascavo na proporção de 1:1. Vá massageando sua mistura de modo que fique bem úmido.
  • Deposite sua mistura em um vidro e cubra com papel toalha amarrado em elástico. Deixe fermentar por 7 dias e depois pode fechar o vidro com a tampa.

IMO 3

Aqui chegamos na parte mais detalhada do processo. Para fazer o IMO 3, é necessário que você utilize uma área coberta e protegida de luz direta e da chuva. Faça seu IMO 3 em uma superfície de terra, pois ao longo do tempo esses microorganismos quebrarão concretos e rochas.

Os ingredientes necessários para fazer o IMO 3 são:

  • 25-30 kg de farelo de trigo ou farelo de arroz solto;
  • 20 ml de OHN (1:1000);
  • 30-60 ml de IMO 2;
  • 40 ml de FPJ de confrei, artemísia ou filipendula (1:500);
  • 40 ml de BRV (1:500);
  • 630 ml de SEA (1:30).

OBS: os insumos devem estar diluídos na água antes de misturar com a água da chuva.

Ao misturar a matéria seca com os insumos, certifique-se de que a umidade está em aproximadamente 65%. Se você não tiver um medidor de umidade, pode fazer uma bola com o material e apertar com a mão de modo que o material deve formar uma bola e manter o formato, mas desfazer com uma leve pressão. Se estiver assim, então a umidade é certa.

Após verificar a umidade, empilhe o material a uma altura de 30-45 cm e cubra com palha ou materiais naturais.  Quando a fermentação iniciar, a pilha vai esquentar e é aí que os cuidados devem começar. Não deixe a temperatura subir acima de 48°C. Nessa etapa, é interessante que se tenha um termômetro de compostagem em mãos.

A pilha deve ser revirada completamente para que a circulação de ar resfrie o material. Geralmente, o tempo de fermentação dura entre 5-7 dias para que a superfície apresente IMOs esbranquiçados. Durante a fermentação, o cheiro será adocicado. Continue revirando sua pilha para manter a temperatura abaixo de 48° e, quando a temperatura parar de subir e a pilha esfriar, a fermentação estará finalizada.

IMO 4

Para fazer o IMO 4, serão necessários os seguintes ingredientes:

  • IMO 3 finalizado em quantidade igual em volume de solo nativo;
  • 20 L de água da chuva com os insumos:
  • 20 ml de OHN (1:1000);
  • 40 ml de FPJ de artemis, confrei ou filipendula (1:500);
  • 40 ml de BRV (1:500);
  • 630 ml de SEA (1:30).

Misture o IMO 3 com uma quantidade igual em volume de solo para que os IMOs selvagens se harmonizem com os IMOs do seu espaço. Adicione os insumos de modo que a umidade fique próxima de 65%. Ao misturar tudo, deixe fermentar assim como você fez com o IMO 3, revirando sua pilha, não a deixe esquentar demais.

IMO 4 (Líquido)

O IMO 4 liquido é utilizado na solução de tratamento de solo e também em outras aplicações. Para fazer o IMO 4, você só vai precisar de:

  • IMO 4;
  • Água da chuva;
  • Balde de 20 L;
  • Coador.

Coloque um punhado de IMO 4 no coador, amarre o saco e prenda à borda do balde, de modo que o IMO 4 fique suspenso dentro do balde, tipo um saquinho de chá. Depois encha o balde com água da chuva e mantenha o balde na sombra por 24-36 horas. Após isso, a utilização deve ser imediata e jamais use se o cheiro estiver ruim. Uma boa dica para melhorar o cheiro é utilizar 20 ml de LAB (1:1000).

IMO 5

Crédito: Chris Trump.

Chegamos ao último estágio dos microrganismos nativos. Aqui, a forma de fazer é idêntica ao IMO 3 e IMO 4 em relação à umidade, local e temperatura. A época ideal para fazer o IMO 5 é em clima mais frio e para obter uma fermentação mais eficaz, é recomendado utilizar no mínimo 136 kg de materiais. Para fazer, é bem simples:

  • Use uma parte de IMO 4 para 10 partes de matéria orgânica (pode ser resíduos alimentares, sobras de FPJ, OHN, FFJ, serapilheira, etc). Misture e adicione FPJ, FAA, OHN, SEA ou outros insumos de modo que a umidade não ultrapasse 60%. 
  • O tamanho da pilha deve ser de 40 a 81 cm de altura e deve ser coberta com materiais naturais. Revire a pilha para manter a temperatura abaixo de 48° e após 21 dias a fermentação e compostagem estarão prontas. Para saber se a fermentação terminou, é só conferir se o IMO 5 está com cheiro de floresta. Se você exagerou na umidade ou não revirou com frequência, o odor será desagradável, pois a pilha apodreceu.
  • Quando a pilha parar de aquecer, você pode armazenar o IMO 5 em sacos por até um ano, mas é interessante que se use antes disso, certo? Mantenha-o sempre em área fresca e coberta.

É importante lembrar que todo IMO no cultivo têm a sua hora e quantidade correta de uso. 

Deixo aqui outro artigo sobre como utilizar as soluções do KNF em cada estágio das plantas.

Sobre o Autor:

Meu nome é Carlos Eduardo, paciente de Cannabis Medicinal e sócio fundador da Cultlight, empresa especializada em iluminação para horticultura e cultivo indoor. Pra quem já me conhece do Instagram ou do YouTube, eu sou o Cadu da Cultlight. Sou Engenheiro de Produção formado na Universidade Federal Fluminense (UFF), onde pesquiso sobre de Cannabis, cultivo, produção e autoprodução, principalmente com o foco medicinal. Te convido a acompanhar nossos conteúdos nas redes sociais para ter acesso a mais dicas e conteúdos técnicos gratuitos sobre cultivo de maconha!

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About Cadu

Cadu Brandão é um especialista na ciência e tecnologia do cultivo de cannabis. Ele possui um diploma em Engenharia de Produção pela UFF.

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