Por que Usar Fibra de Coco no Cultivo Indoor?
O cultivo indoor de cannabis é uma ciência sutil, e um dos aspectos mais críticos desse processo é a escolha de um meio para a planta fixar raízes e absorver nutrientes: em outras palavras, a escolha de um substrato. Existem várias razões que levam os jardineiros experientes a considerarem a fibra de coco como um meio de cultivo superior para a cannabis: ela tem excelentes propriedades de retenção e drenagem de água, oferece espaço abundante para as raízes se desenvolverem e, se tamponada, não interferirá na nutrição das plantas.
Neste guia, vamos explorar o processo de seleção, preparação e tamponamento desse substrato incrível.
A preparação e o tamponamento adequados da fibra de coco não são apenas passos recomendados, são essenciais para garantir que você esteja cultivando de forma otimizada. Se você está comprometido com o cultivo de cannabis de alta qualidade, este guia é para você.
Sumário:
Existem Riscos no Uso de Fibra de Coco para o Cultivo Indoor?
As características particulares da fibra de coco fazem ela ser perfeita para o estilo de cultivo que utiliza fertirrigação de alta frequência, ou seja, os nutrientes e fertilizantes são aplicados junto da água de irrigação das plantas, em vez de serem aplicados diretamente ao solo.
No entanto, existe uma série de detalhes que devem receber a devida atenção para não prejudicar seu grow de maconha.
Por exemplo: a fibra de coco não enxaguada está carregada com pó de coco, que são pequenas partículas do tamanho de poeira. O pó de coco não retém ar da mesma forma que as fibras de coco maiores e, como resultado, você pode ter problemas na retenção de água das raízes. Além disso, enxaguar o pó de coco ajuda a remover o tanino da fibra. Vamos te ensinar o passo a passo para evitar surpresas desagradáveis na sua plantação.
O Que é Tamponar a Fibra de Coco?
O processo de tamponar (de “tampar”) é realizado na fibra de coco com o intuito de saturá-la com Cálcio e Magnésio dissolvidos numa solução com água. Essa técnica é responsável por realizar mudanças nas ligações químicas do substrato de coco, substituindo os elementos Sódio (Na) e Potássio (K), que impedem que a planta absorva cátions, pelos elementos Cálcio (Ca) e Magnésio (Mg) Além disso,o processo é feito para estabilizar o pH (acidez) desse substrato e torná-lo ideal para o cultivo de maconha.
De acordo com a Drª. Keli Cristina Silva Guera: “A troca de cátions no solo ocorre na superfície dos minerais de argila, matéria orgânica e raízes das plantas”. A capacidade de troca de cátions (CTC) tem um papel fundamental na nutrição das plantas e na retenção de nutrientes no solo. Vamos entender mais sobre isso!
Os locais onde essas trocas ocorrem na fibra de coco são naturalmente carregados com cátions de Sódio (Na) e Potássio (K), então se o substrato não for corretamente tamponada, eles continuarão presentes nela e vão prejudicar o desenvolvimento da sua planta. Para nossa sorte, esses elementos possuem ligações químicas fracas à fibra de coco: uma vez que o processo “tampão” é aplicado corretamente, o Sódio e o Potássio são substituídos por Cálcio e Magnésio, e os locais onde as trocas de cátions ocorrem na fibra de coco passam a realizar ligações químicas benéficas às plantas.
A tamponagem é realizada mergulhando a fibra de coco numa solução de água com Cálcio e Magnésio, permitindo que a substituição dos cátions ocorra antes de adicionar as plantas. As ligações que mantêm o Ca e Mg nos locais são muito fortes, então a troca de cátions praticamente para. Isso significa que todos os nutrientes que você adiciona à água estarão disponíveis para a planta nas proporções exatas que você fornecer.
Qual a Diferença entre Lavar e Tamponar a Fibra de Coco?
Quando você compra uma fibra de coco para cultivo, ela possui um conteúdo de sal, ou nível de Condutividade Elétrica (C.E), de 2 a 6 mS/cm (milisiemens por centímetro), o que é muito alto para as plantas de maconha. Para torná-la própria para uso, a fibra deve ser lavada com água até que uma Condutividade Elétrica abaixo de 1 mS/cm seja alcançada. Mas…
Mesmo após a lavagem, os elementos Sódio e Potássio ainda estarão presentes no substrato. Há uma grande diferença entre lavar e tamponar o coco: lavar o coco permitirá que os elementos solúveis em água sejam removidos, mas o tamponamento removerá elementos que estão naturalmente ligados às fibras de troca catiônica do coco.
Ao tamponar a fibra, o objetivo é reduzir a quantidade de locais de troca de cátions que possuem Potássio e Magnésio ligados: o Potássio pode estar ligado a até 40% dos locais e o Sódio pode estar ligado em até 15% dos locais.
Isso é muito importante porque, se 40% dos locais de trocas estiverem retendo Potássio, significa que há 40 meq/100g (miliequivalente a cada 100 gramas) de Potássio no meio de cultivo. O coco hidratado retém cerca de 12 L a 15 L de líquido por 1 kg de coco seco e comprimido. Pode não parecer muito, mas isso implicaria na quantidade de 1,56 g de Potássio a cada 100 g de substrato.
Ao comparar esses 1,56 g existentes na fibra de coco com os 0,22 g (220 ppm) de Potássio que normalmente seriam usados em uma dieta de nutrientes bem equilibrada para a cannabis, você consegue perceber o tamanho do problema.
Além disso, apesar do coco reter apenas 66% de seu volume em água, a água retida na fibra está prontamente disponível para as plantas. Isso contribui para a eficácia desse susbtrato como um meio de cultivo eficaz para a maconha, fornecendo às plantas acesso fácil à água, sem encharcar as raízes.
Riscos de Cultivar em Fibra de Coco Não Tamponada:
Muitos cultivadores desconhecem a necessidade de tamponar a fibra de coco e cultivam plantas nesse meio sem realizar esse processo tão essencial. Quando se cultiva sem tamponar, os cátions de Cálcio e o Magnésio que são introduzidos na rega acabam sendo substituídos pelos cátions de Sódio e Potássio. Isso cria uma Relação de Elementos Nutrientes (NER) subótima e torna o Cálcio e Magnésio indisponíveis para a planta.
A falha em tamponar a fibra de coco é a razão pela qual tantos cultivadores sofrem deficiências de cálcio em cultivos com esse substrato. A falta de cálcio é extremamente prejudicial para a maconha: manchas marrons e amarelas aparecem nas folhas, que eventualmente vão se contorcendo até morrerem. Além disso, as raízes também começam a se contorcer, gerando um grave problema na absorção de água.
No mercado brasileiro é impossível encontrar fibra de coco já tamponada, porém fazer esse processo adequadamente em casa é muito simples. Este guia ensina o passo a passo desta técnica e fornece todas as informações necessárias para transformar qualquer fibra de coco desidratada no melhor substrato para seu cultivo indoor.
Como Preparar e Tamponar a Fibra de Coco:
Devo Adicionar Perlita Junto?
Antes de iniciar o guia, é importante tirar uma dúvida bem frequente desse tema: independentemente do tipo de fibra de coco que você começar, a perlita é fundamental para ajudar na drenagem de água. Quase qualquer perlita servirá, mas esta sacola de 50 litros de perlita expandida da Favorita Substratos é uma ótima opção. Ela possui uma boa mistura de tamanhos de partículas, que ajudam a melhorar a drenagem e a aeração.
Como Hidratar e Enxaguar a Fibra de Coco.
O primeiro passo para preparar a fibra de coco para o cultivo indoor é a hidratação, seja ela comprada solta ou em tijolos. A reidratação pode ser feita com água de torneira, sendo um processo bem rápido, uma vez que a fibra de coco adora absorver água.
Para fazer isso:
- Ferva água o suficiente para cobrir todo o coco, que deve estar em um recipiente próprio para aguentar calor. A fervura da água é necessária para renovar o tanino da fibra de coco.
- Depois de adicionar água, deixe a mistura descansar por cerca de 20 minutos.
- Após isso, a pasta que é produzida pela mistura da fibra com água deve ser enxaguada em uma peneira para remover as partículas mais finas de fibra de coco, conhecidas como “coco peat”, que retêm água em excesso. Seu objetivo nesta etapa é acabar com um material composto por fibras maiores. Use uma peneira de malha ou um coador perfurado.
Passo a Passo para Tamponar a Fibra de Coco:
O próximo passo é tamponar a fibra de coco. Recomendo o tamponamento duplo, que é uma forma de garantir que os locais de troca de cátions estejam totalmente saturados com Cálcio e Magnésio. Após o tamponamento, a troca de cátions não interferirá mais no seu cultivo, e as plantas receberão a nutrição diretamente da fertilização.
Materiais necessários para tamponar a fibra de coco:
- Fibra de coco – aqui eu recomendo a fibra de coco desidratada da Kokostec. Ela é 100% natural e biodegradável, possui ótima aeração e já vem com o tanino removido.
- Uma balança capaz de atingir precisão de pelo menos 1g – não precisa ser sofisticada. Eu uso essa balança aqui que é bem barata e confiável.
- 4 gramas de Sulfato de Magnésio, também conhecido como sal de epsom sem perfume – recomendo o sulfato produzido pela Multinutrientes, que é uma ótima marca de hidroponia.
- 14 gramas de Nitrato de Cálcio – esse produto vem em pó e é diferente do “cal-mag”. Recomendo esse nitrato da YARA, uma das maiores marcas de hidroponia.
- Balde que comporte 20 litros.
- Um recipiente com furos de drenagem – deve ser grande o suficiente para acomodar a fibra de coco hidratada. Os vasos em que você pretende plantar também servem.
- Perlita – recomendo a perlita da Kokostec, que é uma marca confiável no mercado. Esse produto não é perlita expandida e sim perlita extraída de rocha, produto livre de metais pesados.
Como preparar a solução de tamponamento:
- Adicione 19 litros de água ao seu balde, seguidos dos 4 gramas de sulfato de magnésio, e mexa até dissolver;
- Agora adicione os 14 gramas de nitrato de cálcio e mexa até dissolver novamente;
- Dependendo da quantidade de fibra de coco, você precisará fazer vários lotes. Uma boa regra é usar 2 litros de solução de tamponamento para cada 1 litro de coco.
Como tamponar a fibra de coco:
- Em seguida, pegue o coco hidratado e adicione-o ao recipiente com furos de drenagem;
- Lave o coco com a sua solução de tamponamento. Pode ser mais fácil usar um regador para isso, mas você também pode despejar diretamente do balde, desde que despeje uniformemente o suficiente para cobrir tudo.
- É mais eficaz lavar o coco em etapas; adicione metade da sua solução, deixe escorrer, misture o coco e depois adicione o resto e deixe escorrer novamente.
Se você for meticuloso, pode preparar mais solução de tamponamento e lavar até ficar satisfeito com a clareza do escoamento. Se você tiver um medidor de Condutividade Elétrica, para saber que o coco está totalmente tamponado basta medir a solução e a água de escoamento. Quando forem iguais, seu coco estará perfeitamente tamponado.
Misturando Fibra de Coco com Perlita:
A perlita melhora dramaticamente a drenagem e aeração na fibra de coco. Misturar perlita nas proporções dadas na tabela abaixo torna muito difícil (mas não impossível) regar em excesso. Além disso, como essa mistura melhora o fluxo de água através do meio, ela acaba também melhorando a eliminação de sais indesejados.
Quem já experimentou cultivar com esse substrato sem perlita sabe que o substrato não drena tão bem e acaba acumulando água. No entanto, em recipientes pequenos, a drenagem é melhor, e você pode reduzir a porcentagem de perlita para aumentar o espaço das raízes.
Receita de Substrato de Coco com Perlita:
Abaixo, você pode ver a mistura de perlita recomendada pela Cultlight. Uma vez tamponada e misturada com perlita, a fibra de coco é um meio de cultivo perfeito para cultivar cannabis!
Verifique a Condutividade Elétrica (EC) Antes de Adicionar Plantas:
Antes de adicionar mudas ou plantas à sua mistura de fibra de coco/perlita, você deve sempre verificar se a EC está na faixa adequada para o estágio de crescimento delas. Como a solução de tamponamento possui alta EC, você pode precisar enxaguar o substrato com água pura antes de adicionar as plantas. As mudas, em particular, são vulneráveis a serem queimadas pela EC residual na fibra de coco restante após o processo de tamponamento.
- Encha o recipiente que você usará com fibra de coco/perlita e adicione água lentamente até a água sair pelo escoamento.
- Meça a EC da primeira água de escoamento a sair do vaso e confirme que está na faixa adequada: para mudas (menos de 400 ou 0,8 EC) e plantas em vegetação (menos de 1000 ou 2,0 EC).
- Se a EC estiver alta, continue despejando água pura no vaso até que as leituras de escoamento estejam na faixa adequada.
- Após enxaguar a EC desta forma, é uma boa prática fertirrigar (adicionar água com fertilizantes) com medições de EC apropriadas antes de adicionar as plantas.
Conclusão do Guia:
Neste guia para cultivo indoor utilizando fibra de coco como substrato, vimos que a fibra de coco possui diversas vantagens para a cannabis. Muitos cultivadores se decepcionam com o coco pois não sabem que existe um passo a passo que é necessário seguir para tornar a fibra própria para o cultivo de maconha.
Essas etapas são simples:
- Basta hidratar a fibra e enxaguá-la para retirar os sais do substrato;
- Depois preparar a solução de tamponamento para alterar as ligações químicas no substratp;
- Aplicar a solução de tamponamento no coco e drená-lo;
- E por fim enxaguar o substrato mais uma vez e aplicar a fertilizante junto da rega.
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Sobre o Autor:
Meu nome é Carlos Eduardo, paciente de Cannabis Medicinal e sócio fundador da Cultlight, empresa especializada em iluminação para horticultura e cultivo indoor. Pra quem já me conhece do Instagram ou do YouTube, eu sou o Cadu da Cultlight. Sou Engenheiro de Produção formado na Universidade Federal Fluminense (UFF), onde pesquiso sobre de Cannabis, cultivo, produção e autoprodução, principalmente com o foco medicinal. Te convido a acompanhar nossos conteúdos nas redes sociais para ter acesso a mais dicas e conteúdos técnicos gratuitos sobre cultivo de maconha!
Se você ainda possui alguma dúvida sobre cultivo de cannabis, por mais simples e básica que pareça ser, não hesite em entrar em contato com a Cultlight, nós faremos o possível para te ajudar ao longo de todo o caminho.
Chama lá!
Essa mistura do santo solo, sera que da pra encontrar pronto pra um eventual teste ?
“Meça a EC da primeira água de escoamento a sair do vaso e confirme que está na faixa adequada: para mudas (menos de 400 ou 0,4 EC) e plantas em vegetação (menos de 1000 ou 1,0 EC).”
Há dois erros aqui.
400 ppm, na escala de 500, equivale a 0,8 EC e não 0,4 EC.
1000 ppm, na escala 500, equivale a 2,0 EC e não 1,0 EC.
Você está correto, Edson! Agradeço por indicar o erro, vou fazer a alteração no texto.